Doces Conventuais

“S. Gonçalo de Amarante
Tantos milagres fazeis
Que são mais milagres vossos
Estes doces e pasteis”

O segredo conventual ganha forma e ingredientes terrestres (açúcar, ovos, farinha e amêndoas) atingem a sublimação quando moldados pelas mãos das freiras clarissas e transformados em lérias, foguetes, papos de anjo ou brisas do Tâmega.

O declínio do mosteiro de Santa Clara ditou que o seu receituário tenha sido delegado a algumas famílias de Amarante, que o perpetuaram e promoveram até à atualidade.

Na revista Testemunhos, editada pelo Círculo Lago Cerqueira, pode ler-se que “(…) há muito tempo se comercializavam doces por Amarante e por muitas outras localidades. Por estas bandas, eram comercializados em ocasiões festivas e especiais, marcando presença nas Festas do Junho. Aí podiam ser apreciados nas inúmeras bancas das doceiras e ainda na festa realizada em 10 de Janeiro, dedicado ao bem-aventurado S. Gonçalo de Amarante. (...) Os doces conventuais (…) eram de receitas que pertenciam somente às freiras que com a sua venda arranjavam mais algum pecúlio para poderem comportar as inúmeras despesas da comunidade religiosa. Era frequente a oferta de alguns doces às famílias mais abastadas do concelho que com elas se relacionavam. (…) As receitas acabavam por sair do interior dos conventos, das freiras para as famílias mais abastadas (…).”

Cumprindo o segredo conventual, estas especialidades continuam a despertar a curiosidade de quem nos visita.

Nas publicações “Doçaria dos Conventos de Portugal”, de Alfredo Saramago e Manuel Fialho e “Cozinha Tradicional Portugal”, de Maria de Lurdes Modesto, encontram-se, entre outras, as receitas dos seguintes doces conventuais:

Lérias

Ingredientes:

1 kg de amêndoas, 1 kg de açúcar escuro, 200 g de farinha, 2 dl de água, 500 g de açúcar pilé, farinha quanto baste para polvilhar.

Preparação: 

“Pelam-se” e ralam-se as amêndoas. Amorna-se a água e trabalha-se a amêndoa, o açúcar escuro e a farinha com água tépida até se obter uma massa homogénea. Molda-se a massa em rolo com a ajuda de um pouco de farinha e cortam-se às rodelas. Espalmam-se as rodelas de massa com a mão e colocam-se num tabuleiro polvilhado com farinha. Levam-se a cozer em forno brando.

Leva-se o açúcar pilé ao lume com um copo de água até fazer ponto de espadana.

Passam-se as Lérias por açúcar e secam-se em redes.

Foguetes

Ingredientes: 

250 de açúcar, 125 g de amêndoa, 2 ovos inteiros e 7 gemas, folhas de obreia, 250 g de açúcar para a calda.

 Preparação: 

Leva-se o açúcar ao lume com um pouco de água (1 dl mal medido) e deixa-se ferver até fazer ponto de espadana.

Juntam-se as amêndoas peladas e raladas e deixa-se cozer até espessar. Retira-se do calor e depois de frio acondicionam-se os ovos.

Mexe-se muito bem e leva-se o doce novamente a lume brando, mexendo só para cozer os ovos.

Cortam-se as folhas de obreia em quadrados de 5,5 cm. Com um pano molhado em água fria humedecem-se um a um os quadrados da obreia. À medida que se vão humedecendo, vão-se recheando com o preparado anterior bem frio e enrolando em forma de charuto.

Levam-se ao forno, devendo os topos ficar virados para o lado do calor.

Depois de fritos passam-se por uma calda de açúcar em ponto de pérola e deixam-se secar.